Com o ano beirando o seu fim, não tem mais como adiar: está na hora de fazer a retrospectiva. Você senta, põe a mão na consciência, no coração, no joelho e dá uma baixadinha. Vê o que foi bom, o que foi ruim, o que doeu e o que poderia ter sido melhor. A trilha perfeita vem bem a calhar.
Pensou em tendência, pensou em você. Arrasa e diz pra todo mundo que no ano que vem o néon é o novo rosa. E que a Índia veio mesmo pra ficar: aqui e no Japão.
Choro, gritaria, chantagem emocional, comportamento passivo-agressivo e lá está você brigando com a sua mãe. Ela é intransigente, não te entende e exige demais. Você é chata, imatura e sensacionalista. Ainda bem que vocês se amam e que tudo isso passa.
Sério: as coisas não podem dar errado pra sempre. Um dia vai dar certo. Não desista, não desista, não desista. É só escutar a trilha certa de olhos fechados, eu prometo.
Daqui a pouco as visitas chegam e você ainda está na cozinha, preparando aquela receita da sua tatara/bisa/vó/mãe. Apesar da pressa, tudo corre bem, a não ser pela Maizena que acabou. E faltava tão pouco. E você está toda suada/melada/fedida. Então você profere um palavrão que retumba no condomínio inteiro para depois, calmamente, calçar as havaianas, pegar os fones de ouvido e ir até o mercadinho pra comprar o que faltava.
Na sua cabeça tem várias sequências passando. As coisas que você fez, que você ouviu, os erros e acertos, as frases pontuais. Então você vê que aquele amor tão grande e tudo o que era de mais bonito na sua vida precisa de cuidado. Não importa quem tem razão: agora você precisa agir.
Outro dia zoaram com a minha cara quando disse que o Kraftwerké uma excelente trilha para arrumação de armários e limpezas diversas. Mas momentos como esses, sem uma música legal, tornam-se ainda mais maçantes. Recentemente li uma matéria dizendo que a faxina pode sim, ser uma terapia. E de graça! Se desfazer do que não serve mais, reviver passagens tiradas lá do fundo do armário, colocar ordem na sua vida. Apesar de não ter nenhum glamour, uma atividade tão introspectiva não dá para ser ao som de Katinguelê.
Esta música fala de recomeçar. Fala de virar a página. Mas, quando está tudo bem e você se vê cercado por bons amigos, conversas legais e risadas mais legais ainda, e tá rolando aquele pôr do sol emblemático, a música Feeling Good, gravada por Nina Simone vira a trilha ideal. Esse vídeo é uma animação tipográfica que conserva bem esse climão.
Jura que não conta pra ninguém? Jura? Promete? Não pode falar nem para o seu travesseiro. Nem para o cachorro. Muito menos pra sua mãe. Ah, quer saber? Melhor eu não contar mesmo.
Tem um segredinho guardado? Então ouve isso aí com os olhos fechados, abraçando um ursinho de pelúcia.
Você não sabe que roupa usar hoje - grande novidade. Ao invés de se lamentar enrolado na toalha, aproveite para se divertir. Ligue para o trabalho avisando que vai chegar um pouquinho mais tarde e tire tudo do armário. Você vai desfilar na frente do espelho ouvindo a trilha perfeita.
Você está mudando. Anos, horas, dias, minutos, segundos. Mudando, sem parar. Siouxsie traduz isso nesta música. Into a Swan. Se pensarmos bem, mudar é bom pacas. E esse som, mais ainda.
O dia começou e você tem uma porrada de coisas pra fazer, gente para ver, merdas para resolver. Tanta coisa que não cabe em 24 horas, mas você nem liga. Por que hoje o caos é bom e te enche de adrenalina e vira combustível. Esta versão de I am the Walrus dos Beatles, por Jim Carey fica ainda mais caótica (e isso parecia impossível) do que a original. Para mim a mensagem é clara - não se assustem com o caos.
Você pode estar feliz ou muito, muito triste. Você está sozinho e não há nada para ver aí: só o que você fez instantes antes de todas as luzes se apagarem. O que a sua mãe diria? Deixa pra lá. O que importa é que o país inteiro está no escuro para você.
Até agora a vida passou sobre você. Mas já chega. Documentos, carteira e chaves na mão: você vai viver um pouquinho. Na roadtrip da sua vida vai ter auto-análise, alegrias, tristezas, saudades e descobertas. E, é claro, Brigitte Bardot.
As vezes a gente passa um tempão em crise. Vacilando. Esperando sinais pra fazer o que irremediavelmente, tem que ser feito. E quando vc cai na real, o tempo passou e você não agiu.
Este cover de Personal Jesus do Depeche Mode, feito pelo Johnny Cash é um lembrete de que, por mais que você seja um predestinado, se ficar parado, nada vai rolar do jeito que você quer.
Uma das minhas músicas preferidas. Uma das bandas mais perfeitas que já existiram. Um dos melhores bateristas do mundo. A cantora dos meus sonhos. Parece que foi ontem. Faz bastante tempo. Mas a minha pele caminha mais rápido que a minha alma.
Ela chega atropelando tudo e invade os seus sapatos. Depois faz o seu nariz coçar e, ei, o que é aquilo? Suas bochechas estão vermelhas! Boas notícias não têm este nome à toa. Sleepyhead - Run Toto Run
Você questiona o seu trabalho, a sua rotina e as coisas que te motivam a levantar da cama todos os dias. Conclui que é tudo uma droga, que você deveria ter ido SIM para aquela missão voluntária na África. Você lembra que a vida é uma só, que o tempo passa rápido demais e que a sua existência poderia agregar algo ao planeta.
É mais uma crise existencial e no outro dia passa. Mas fica tranqs, porque outro dia ela volta. Até lá, vá ouvindo a trilha perfeita e tudo vai ficar bem.
Dias nublados me incomodam. Dias nublados seguidos incomodam muito, mas muito mais. Dá aquela sensação de estar mofando. Aquela apatia, uma vontade compulsiva de bocejar. Para combater isso, nada melhor do que ouvir a banda holandesa Urban Dance Squad com Deeper Shade of Soul. Este som tem um puta mood positivo, e é o ideal pra sair do marasmo.
Eu não sei quanto à experiência de vocês com circo, mas as minhas sempre misturaram o fascínio em números acrobáticos pelo terror que os palhaços me causavam. Tem uma coisa meio aterrorizante na euforia psicótica de alguns deles. Isso me leva a postar a animação feita em 2007, "Look at the monkey" do Thomas Hicks com música do Aaron Lampert. Então, divirtam-se e assustem-se.
I'm a hustler baby/ That's what my daddy's made me/ If I had the money to go to a record store I would/ Put records in my clothes/ Go to that record store/Steal some record man/ I'm telling you I'm broke/ What the fuck is you gonna do/ Push it push it push it push it. Veja o clip (censuraram o embed).
Tem dias que tudo parece virado do avesso. Seu cabelo está qualquer coisa menos o que deveria, seu cachorro vomitou no corredor, a chuva cai raivosa do lado de fora e você acorda com dor de dente.
Enquanto você reúne todas as forças para sair da cama, ligue o rádio e torça pela trilha perfeita. E então tudo vai ficar bem.
Esse telefone não páááára de tocar. No Messenger tem o seu primo de oitavo grau perguntando como tá a sua vó. Os jobs se multiplicam em progressão geométrica e, sim, você deveria estar em três reuniões diferentes ao mesmo tempo.
Então a perna vai ficando bamba e a visão, turva. Você lembra da sua mãe, do primeiro campeonato de natação, da professora de gramática. Vai grunhindo monossílabos átonos até alguém se dar conta de que você está tendo um treco. Enquanto o RH chama a ambulância, a sua cabeça põe a trilha perfeita para tocar.
Take Me To The Hospital (Sub Focus Remix) - The Prodigy
Seu vizinho é um mala. Já roubou seu jornal no feriado, na hora do jogo berra “chupa” na janela e o pior: ouve som alto, muito alto. E ruim, é claro. Você só fica sossegado no Carnaval, quando ele vai curtir alguma micareta por esse Brasil Brasileiro. Mas a boa notícia é que você pode se vingar. Atari Teenage Riot nele. Depois é só aguardar a bandeira branca na janela.
Esse som tinha que estar aqui. Infelizmente não tem clip. Experimente ouvir essa música do Man or Astroman? quando estiver de mau humor. É automático. Todos os bichinhos e objetos fofos vão te acompanhar dançando pela casa, flores brotarão nos elevadores e… ai, surtei. Of sex and demise - Man or Astroman?
Não sei se vocês já tiveram a sensação de chegar em uma cidade pequena, um vilarejo, no meio do nada, e todo mundo ficar te secando, como se você fosse um ET. Um lugar que parou no tempo. Isso já aconteceu comigo e é uma sensação estranha. Aos poucos você vai chegando e conhecendo o local e as pessoas. E tudo se ajeita. Pois é. Esta é uma cena de Deliverance (Amargo Pesadelo) filmado nos anos 70 e mostra exatamente isso. O duelo entre violão e banjo é sensacional e o garoto do banjo é no mínimo creepy.
Sabe quando você tem que terminar aquele job casca, o prazo está expirando e pra colaborar estão todos felizes à sua volta, falando alto e dando risadas? Aí só o fone salva. Para esses momentos preciso de uma trilha agitadinha - e sem vocal, como “The Sound of the Big Babou”, do DJ Laurent Garnier. Não é nova, mas adoro. Engraçado que nunca tinha visto o clip (oficial, será?) até procurá-lo no You Tube. E não é que ilustra bem a situação?
Não adianta: você precisa sair da cama. Ainda que o seu útero esteja virando cambalhotas dentro da sua barriga. Ainda que a dor seja maior que as tarefas do dia. Ainda que você esteja precisando de carinho & atenção & cobertor & chazinho & bolsa quente. A cólica veio para acabar com o seu dia e a trilha perfeita é o único consolo.
Sabe quando você chega em casa mais cedo e dá tempo de ver aquele puta pôr-do-sol rolando lá fora? E tá tudo tão sossegado que você nem se dá ao trabalho de acender as luzes? Isso rola comigo às vezes e esta é a trilha.
A gente sempre recebe bem as pessoas legais. Vale dar aquela varridinha na casa, sair do pijama e entrar num jeans, pôr a cerveja no freezer e tirar alguns quitutes da geladeira. Dar boas-vindas é legal quando quem chega é bacana e aí todo mundo fica feliz.
Hoje tem trilha escolhida a dedo para dar as boas-vindas ao Rubens Casanova, amigo querido que, a partir de hoje, vai compartilhar as trilhas dele com a gente. Rubie, puxa o banquinho, pega uma latinha e fecha a porta pra não acordar a vizinhança.
Amor, o pó de café acabou. Fiz o suco de laranja sem gelo e sem açúcar porque é melhor assim. Não tinha pão, mas eu busquei na padaria da Clodomiro e trouxe. Quando eu passei a margarina ele ainda estava quentinho. Esquentei leite e preparei um chocolate também, se bem que agora deve estar frio, assim como o pão.
As minhas coisas já estão dentro do carro e eu acho que não esqueci nada, apesar de ter certeza de que você vai me ligar pra eu voltar e buscar uma coisa ou outra. Talvez eu não volte. Vai depender do que ficou. Mas isso a gente vê depois.
Eu sei que é meio chato sair assim, sem uma despedida de verdade. Você vai me chamar de covarde, eu sei, e até acho que sua mãe vai me ligar. Não tem problema. Eu continuo achando que é melhor assim. Que despedida física numa hora dessas nunca ajuda.
Você deve estar com a sobrancelha direita apontada pra cima, falando pra si que uma despedida física era o mínino que a gente poderia ter e que seria até melhor pra gente superar o fim. É que eu acho que o nosso fim já foi e a gente nem percebeu. Ele dormiu debaixo do nosso cobertor e tomou café com a gente todos os dias. Ele estava lá comigo, me matando bem quietinho feito um cigarro amigável, enquanto você se bastava em algum lugar.
Mas eu não quero brigar, amor. Vou guardar o que eu preciso pra continuar a minha vida. O que faz mal eu deixo na rua: se alguém quiser pode levar. Já não está fácil, então eu quero fazer o máximo deixar o coração em paz.
Em cima da geladeira está a minha parte do aluguel e do resto das contas. A chave da porta é a única que eu tenho: vai ficar dentro do terceiro vasinho. Dá um beijo no Cortiça quando ele acordar. E se cuida. E não esquece de comprar pó de café.
Não vem que não tem: é seu momento de indulgência. Hora de esquecer a dieta e tirar aquela barrinha de chocolate da bolsa. Você nem quer saber das calorias, de gordura trans, de emissão de carbono ou aquecimento global.
Você merece esse chocolate derretendo na sua boca, um lapso de tempo que engole todos os seus probleminhas e transforma tudo em prazer. E não vá esquecer da trilha perfeita.
Aquela correria desvairada, tudo acontecendo ao mesmo tempo e o mundo acabando nos cinco minutos seguintes. Aí você se dá conta de que não dá para ser tudo assim tão rápido. Não desse jeito. Você fica até meio emo, começa a lembrar da sua vida e do que está faltando.
Enquanto isso passa pela sua cabeça, você segura a caneca de café, olha para um ponto perdido no infinito de tudo o que você tem pra fazer e assobia a trilha perfeita. Dreams Come True Girl - Cass McCombs
Aquele comentário imbecil, um olhar desnecessário. Vem fulano e brilha no seu dia, largando uma infamidade esdrúxula só para ter o prazer de humilhar você. Essas pessoas merecem apanhar de cabeça pra baixo ao som da trilha perfeita.
A sua vida fica mais legal dentro de um cross. As árvores são mais verdes e os passarinhos gorjeiam mais que lá. Você vai até onde quiser porque, bem, porque a sua vida fica mais legal dentro de um cross. Rodas espertas, direção maneira, faróis que acendem e muito espaço para você... ficar dentro enquanto dirige.
O tempo passa e você aí, né? E se, sei lá? Se a gente fosse... andar de bicicleta? É, todo mundo, tipo agora? Ah, vai, gente! Vamo aí! A gente é jovem! Dane-se o emprego, as contas pra pagar, os prazos e a vida adulta. Há tanta vida lá fora e aqui dentro nunca. Stare into the sun - Jamie Scott & The town
Vai, esse papo de errar-é-humano não passa de balela. Sim, todo mundo erra, mas não quer dizer que errar é ok. Que tudo bem. Quem erra ganha uma culpa de presente e vai ter que aprender a conviver com isso. Acontece. É humano.
Foi difícil, você passou por várias situações diferentes, teve paciência e agora... acabou. Tendo conseguido alcançar sua meta ou não, o tempo acabou e o que vai ficar é o que você tem nas mãos agora.
Se você ficou feliz com o resultado, parabéns. Se você não gostou nem um pouco, paciência. Pelo menos você cumpriu seu dever e agora pode ouvir a trilha alusiva ao tema.
Talvez o telemarketing, SAC e todos os seus assemelhados tenham sido a pior coisa já concebida pela mente humana. Eu simplesmente não tenho a mí-ni-ma paciência para lidar com estes seres sem rosto que só sabem conjugar gerúndios e pedir mais um momento por favor.
Para manter a calma e não jogar o telefone contra a parede, quebre o vidro e libere a trilha perfeita.
Separa, empacota, doa, leva. Abre, fecha, cadê a porra do negócio que eu acabei de colocar aqui? Mudanças são legais, mas o pré e o pós são sempre tensos. Pelo menos cansativos.
Na hora de fazer o caracol, lembre-se de ter uma trilha agradável no salão e não esqueça de que, no fim das contas, vai ser legal. The Botticellis - Stay with my brother.
Seu coração estava todo bagunçado. Você não sabia direito o que queria. Lá estão vocês ficando, se enrolando, sexuando e todos os outros gerúndios relativos. Não está nada bem porque você sabe que as coisas começaram tortas.
Você precisa pôr um ponto final nessa história. Na real, você precisa jogar uma pedra na cara do dito-cujo. É difícil manter níveis diplomáticos nesse tipo de diálogo. Não é porque está tudo uma bagunça que você vai humilhar o outro, né? Nessas horas, meu amigo, use a infalível trilha para estragar tudo. Ela é tão jeca, tão mela-cueca, tão genérica, tão batida, tão velha que neguinho/a vai se tocar na hora e nunca mais vai ligar pra você.
Pode ser um fim de semana na praia, um acampamento em alguma chapada inóspita, aquela festa que era a maior indiada ou até uma noitada de imagem & ação. Tem coisas que a gente só faz com os amigos mais legais, aqueles de quem a gente sempre lembra com um sorriso no rosto e olhar perdido. Aí alguém pergunta do que você está rindo e a gente sempre responde: "nada, não...".
Um, dois, cinco ou trinta. Não importa quantos amigos legais você tenha, desde que eles sejam sensacionais. Amizades desse tipo a gente cultiva e celebra com a trilha de festa para pé descalço na areia.
Respire bem fundo. Respire bem devagar. Você está tranquilo, muito tranquilo,tranquilo demais. À sua frente, um campo verdejante se estende até o horizonte. Não há nada, nem ninguém: somente você.
Assassinato, medo de barata ou hobbies excêntricos. Vai que um dia você precisa de uma trilha para hipnose?
Nem segunda, nem quarta. A sexta está longe, mas o fim de semana acabou de passar. Hoje é terça-feira, um dia menos pior que o seu antecessor. Dia de acordar mais cedo para fazer o café da manhã e, ainda de roupão, ler uma pontinha do jornal.
Para completar o clima comercial de margarina, ligue o som bem baixinho e beba café na caneca com o cachorro dormindo no seu pé.
A sua cama é sempre quentinha porque tem você e mais um. Vocês enroscados em sonho, beijo, abraço, ronco, cobertores roubados e bom dias. Todo dia é mais gostoso porque ele está lá sempre que o despertador toca (e quando não toca também). Faz tempo que vocês dormem e acordam juntos. Faz tempo que isso enche a sua barriguinha de amor.
É bonito. Tão bonito que merece uma declaração de amor por dia. Como a nossa criatividade não é tão grande quanto o amor, fica aqui a trilha perfeita para cada manhã de dois.
Fulano não sabe passar recados. Fala errado, não se veste adequadamente, nunca sabe responder o que você pergunta e tem uma risada horrorosa, que machuca. Sempre que sai do banheiro, um odor fortíssimo de amoníaco e canela se espalha por toooooodo o escritório. Algumas pessoas até acham o Fulano legal, mas você não.
Eis que o Fulano já era. Você não precisa se sentir culpado, afinal, a culpa é toda dele. Não é nada pessoal. O problema é ele, não você. Quer dizer, er..., é melhor para ele tentar começar bem em outro lugar. E quando Fulano sair da sua sala com o rabo entre as pernas, você aperta o play e pede um cafezinho tentando segurar uma risadinha maquiavélica.
Perto demais pra ir de carro. Meio chatinho pra ir andando. Você precisa trabalhar todos os dias. Escolhe ir com suas próprias pernas em prol da saúde, pensando naquele número exacerbado de colesterol.
A vantagem de ir para o trabalho a pé é ter os fones no ouvido. Você entra naquele estado engraçado em que você ouve-cantandinho as músicas que estão passando por ali. Por isso tem que ser música conhecida, que dê pra acompanhar, que traga memórias legais.
O erro foi seu, admita. Tudo aquilo que era invejável de tão bonito, a história que mais parecia roteiro de filme indie europeu, aquele amor sem precedentes. Era tudo isso e você estragou, tipo o toque do Midas de um jeito inverso. Quem você mais amava se foi e não há nada a fazer.
Depois que você descartar o suicídio e, por fim, resolver encarar a dor, as coisas vão ficar menos piores. Talvez você perceba que a culpa não foi exatamente sua e que aquilo não daria certo mesmo (mas na maioria das vezes a culpa foi sua, pois é). Enfim. Para tapar o buraco de meteoro explodido no seu peito, nada melhor que sentir doer. E para sentir doer, nada melhor que a melhor trilha de todos os tempos gramaticais.
Talvez você não faça aula de sapateado nas manhãs de sábado, mas eu faço. Nesse caso, imagine acordar cedo no dia que é sinônimo de liberdade de toda e qualquer obrigação com horários. Quando a vontade de ficar na cama teima em vencer, me lembro que aulas de sapateado são legais.
Aí eu visto minha roupa característica, pego os sapatos mágicos e me preparo para 20 minutos de trânsito ao som da minha trilha especial. E depois tudo é magia.
Bem que o seu carro poderia estar andando. Mas, para isso, o carro da frente precisaria estar andando também, bem como o da frente dele e por aí vai. É a terceira vez na semana e, vamos combinar, hoje você não precisava de um congestionamento. Mas ele está lá plantado no meio do caminho, enraizando você também.
Vai gritar? Grita, só não buzina. Se você é daqueles que já aprendeu que nessas horas não adianta ficar enfezado, ligue o ar condicionado e deixe a trilha mágica aliviar a tensão.
Eles estão por toda parte. Onde você menos espera há um apelido melado, um carinho exacerbado, beijinhos irritantes e uma felicidade imbecil que chega a ser agressiva. Então você é um daqueles que odeia casais casais felizes, que diz que o amor não existe e que tudo isso é uma palhaçada.
Eu sei que você se irrita e que, ao chegar em casa, desconta a sua frustração enfiando o pé na jaca à sua maneira: engolindo três pacotes de bolacha recheada, socando a parede ou tomando banho compulsivamente. Antes de começar a se lamentar e a perguntar quando é que você vai ter um affair feliz, deixe a trilha da esperança ecoar pela casa e construa um momento de sofrimento cinematográfico.
Tudo acaba bem no final e, se não está bem, é porque não acabou. Men-ti-ra. Todo cidadão portador de pelos pubianos sabe que: 1) tudo acaba e 2) o fim pode ser de dois jeitos: a)bom ou b)ruim.
Quando acaba do jeito bom, é alegria geral da nação. Já os finais ruins pedem por um ritual. Algo que marque este fim odiado, sofrido e injusto. Depois de xingar, chorar e sofrer você pode tentar rir. A trilha perfeita ajuda.
Festinha rolando, a pessoa está lá do outro lado com um copo na mão e você está tão nervoso que a cerveja que acabou de pegar esquentou em dois segundos. Duzentas e oitenta e duas frases de abordagem simpática/sensual entram no seu cérebro randomicamente. Como um raio, você elimina aquelas de gosto duvidoso e as que nunca funcionaram. É aí que você percebe que não tem nada.
Nas horas em que o frio na barriga é maior que Netuno e você está MORRENDO de medo porque quer chegar e não sabe o que dizer, deixe a trilha certa agir por você. Quando ela estiver tocando, você nem precisa dizer nada. E se não funcionar, basta dizer que você bebeu demais e pedir desculpas.
Vocês brigam. Você não entende como é possível que alguém em sã consciência faça uma coisa daquelas. O outro teima em dizer que é você quem não consegue ver o que acontece de verdade. Aí você quer terminar e o outro pede pra você se acalmar. Você se acalma e o outro começa a enumerar suas grosserias. Ele quer terminar e você vai dormir na sala.
Não importa o motivo: a maioria das discussões entre casais e bons amigos é quase sempre a mesma. Na hora rola uma explosão de raiva hecatômbica. Depois vem a vontade de chorar e, quando você chora, fica com raiva por estar chorando. A gente sabe que logo vai passar e que vocês vão fazer as pazes. Enquanto o beijinho torto não chega, vale escutar a música ideal para o purgatório.
Leia-se ir embora como sair de algo pegajoso. Leia-se algo pegajoso como aquelas situações que grudam em você e que pedem por uma mudança imediata. Acontece que você está lá naquele misto de poço de areia movediça e pixe, então não consegue sair do lugar.
Mas eu não posso, eu não vou conseguir, não tem como, eu não tenho condições, mas como eu vou deixá-lo, isso está me matando. Sabe? Todo mundo já passou por um sufoco desses. A gente sabe que o ar está pesado demais, mas não tem coragem de abrir a porta. Aí você aperta o play e ouve a música para ir embora.
Antes de fones de ouvido do que mal acompanhada. Adoro pendurar os ditos nas orelhas e sair por aí. Principalmente quando faz frio. Primeiro porque andar sob sóis flamejantes não é legal; segundo porque no inverno tudo fica mais bonito. As pessoas são mais cheirosas e os cachecóis nos dão a falsa impressão de que o glamour invadiu as ruas.
Sendo assim, a escolha da trilha certa para a sua breve caminhada transforma seu passeio invernal em video clip. Não que isso vá fazer alguma diferença na grande ordem das coisas, mas pelo menos ilumina 5 minutos do dia.
Tem gente que precisa de música para pensar. Gente como eu, que se sente incomodada com o silêncio. Sim, existem os silêncios bonitos-gostosos-dramáticos-românticos e todo mundo precisa deles pelo menos uma vez na vida, mas não é desse tipo de silêncio que eu estou falando (acho que deu pra entender).
Música para pensar, deixa eu esclarecer, é aquela que sai pelos fones de ouvido e deixa o seu cérebro à vontade pra fazer o que quiser. Não tem barulhinhos irritantes, nem coisas que desviam a atenção. Eu gosto de ouvir esse tipo de música enquanto escrevo (o que acontece com muita frequência, já que sou redatora).
Gica e seus amigos acreditam que existe uma trilha para tudo nessa vida. Se você gostar de alguma, pode pegar porque, no fim das contas, todo mundo vai dançar mesmo. Ah, esse não é mais um blog de crítica musical.