Dias nublados me incomodam. Dias nublados seguidos incomodam muito, mas muito mais. Dá aquela sensação de estar mofando. Aquela apatia, uma vontade compulsiva de bocejar. Para combater isso, nada melhor do que ouvir a banda holandesa Urban Dance Squad com Deeper Shade of Soul. Este som tem um puta mood positivo, e é o ideal pra sair do marasmo.
Eu não sei quanto à experiência de vocês com circo, mas as minhas sempre misturaram o fascínio em números acrobáticos pelo terror que os palhaços me causavam. Tem uma coisa meio aterrorizante na euforia psicótica de alguns deles. Isso me leva a postar a animação feita em 2007, "Look at the monkey" do Thomas Hicks com música do Aaron Lampert. Então, divirtam-se e assustem-se.
I'm a hustler baby/ That's what my daddy's made me/ If I had the money to go to a record store I would/ Put records in my clothes/ Go to that record store/Steal some record man/ I'm telling you I'm broke/ What the fuck is you gonna do/ Push it push it push it push it. Veja o clip (censuraram o embed).
Tem dias que tudo parece virado do avesso. Seu cabelo está qualquer coisa menos o que deveria, seu cachorro vomitou no corredor, a chuva cai raivosa do lado de fora e você acorda com dor de dente.
Enquanto você reúne todas as forças para sair da cama, ligue o rádio e torça pela trilha perfeita. E então tudo vai ficar bem.
Esse telefone não páááára de tocar. No Messenger tem o seu primo de oitavo grau perguntando como tá a sua vó. Os jobs se multiplicam em progressão geométrica e, sim, você deveria estar em três reuniões diferentes ao mesmo tempo.
Então a perna vai ficando bamba e a visão, turva. Você lembra da sua mãe, do primeiro campeonato de natação, da professora de gramática. Vai grunhindo monossílabos átonos até alguém se dar conta de que você está tendo um treco. Enquanto o RH chama a ambulância, a sua cabeça põe a trilha perfeita para tocar.
Take Me To The Hospital (Sub Focus Remix) - The Prodigy
Seu vizinho é um mala. Já roubou seu jornal no feriado, na hora do jogo berra “chupa” na janela e o pior: ouve som alto, muito alto. E ruim, é claro. Você só fica sossegado no Carnaval, quando ele vai curtir alguma micareta por esse Brasil Brasileiro. Mas a boa notícia é que você pode se vingar. Atari Teenage Riot nele. Depois é só aguardar a bandeira branca na janela.
Esse som tinha que estar aqui. Infelizmente não tem clip. Experimente ouvir essa música do Man or Astroman? quando estiver de mau humor. É automático. Todos os bichinhos e objetos fofos vão te acompanhar dançando pela casa, flores brotarão nos elevadores e… ai, surtei. Of sex and demise - Man or Astroman?
Não sei se vocês já tiveram a sensação de chegar em uma cidade pequena, um vilarejo, no meio do nada, e todo mundo ficar te secando, como se você fosse um ET. Um lugar que parou no tempo. Isso já aconteceu comigo e é uma sensação estranha. Aos poucos você vai chegando e conhecendo o local e as pessoas. E tudo se ajeita. Pois é. Esta é uma cena de Deliverance (Amargo Pesadelo) filmado nos anos 70 e mostra exatamente isso. O duelo entre violão e banjo é sensacional e o garoto do banjo é no mínimo creepy.
Sabe quando você tem que terminar aquele job casca, o prazo está expirando e pra colaborar estão todos felizes à sua volta, falando alto e dando risadas? Aí só o fone salva. Para esses momentos preciso de uma trilha agitadinha - e sem vocal, como “The Sound of the Big Babou”, do DJ Laurent Garnier. Não é nova, mas adoro. Engraçado que nunca tinha visto o clip (oficial, será?) até procurá-lo no You Tube. E não é que ilustra bem a situação?
Não adianta: você precisa sair da cama. Ainda que o seu útero esteja virando cambalhotas dentro da sua barriga. Ainda que a dor seja maior que as tarefas do dia. Ainda que você esteja precisando de carinho & atenção & cobertor & chazinho & bolsa quente. A cólica veio para acabar com o seu dia e a trilha perfeita é o único consolo.
Sabe quando você chega em casa mais cedo e dá tempo de ver aquele puta pôr-do-sol rolando lá fora? E tá tudo tão sossegado que você nem se dá ao trabalho de acender as luzes? Isso rola comigo às vezes e esta é a trilha.
A gente sempre recebe bem as pessoas legais. Vale dar aquela varridinha na casa, sair do pijama e entrar num jeans, pôr a cerveja no freezer e tirar alguns quitutes da geladeira. Dar boas-vindas é legal quando quem chega é bacana e aí todo mundo fica feliz.
Hoje tem trilha escolhida a dedo para dar as boas-vindas ao Rubens Casanova, amigo querido que, a partir de hoje, vai compartilhar as trilhas dele com a gente. Rubie, puxa o banquinho, pega uma latinha e fecha a porta pra não acordar a vizinhança.
Amor, o pó de café acabou. Fiz o suco de laranja sem gelo e sem açúcar porque é melhor assim. Não tinha pão, mas eu busquei na padaria da Clodomiro e trouxe. Quando eu passei a margarina ele ainda estava quentinho. Esquentei leite e preparei um chocolate também, se bem que agora deve estar frio, assim como o pão.
As minhas coisas já estão dentro do carro e eu acho que não esqueci nada, apesar de ter certeza de que você vai me ligar pra eu voltar e buscar uma coisa ou outra. Talvez eu não volte. Vai depender do que ficou. Mas isso a gente vê depois.
Eu sei que é meio chato sair assim, sem uma despedida de verdade. Você vai me chamar de covarde, eu sei, e até acho que sua mãe vai me ligar. Não tem problema. Eu continuo achando que é melhor assim. Que despedida física numa hora dessas nunca ajuda.
Você deve estar com a sobrancelha direita apontada pra cima, falando pra si que uma despedida física era o mínino que a gente poderia ter e que seria até melhor pra gente superar o fim. É que eu acho que o nosso fim já foi e a gente nem percebeu. Ele dormiu debaixo do nosso cobertor e tomou café com a gente todos os dias. Ele estava lá comigo, me matando bem quietinho feito um cigarro amigável, enquanto você se bastava em algum lugar.
Mas eu não quero brigar, amor. Vou guardar o que eu preciso pra continuar a minha vida. O que faz mal eu deixo na rua: se alguém quiser pode levar. Já não está fácil, então eu quero fazer o máximo deixar o coração em paz.
Em cima da geladeira está a minha parte do aluguel e do resto das contas. A chave da porta é a única que eu tenho: vai ficar dentro do terceiro vasinho. Dá um beijo no Cortiça quando ele acordar. E se cuida. E não esquece de comprar pó de café.
Gica e seus amigos acreditam que existe uma trilha para tudo nessa vida. Se você gostar de alguma, pode pegar porque, no fim das contas, todo mundo vai dançar mesmo. Ah, esse não é mais um blog de crítica musical.